Se acontecer um vazamento na planta de um fornecedor e esse incidente atingir o solo ou a água, quem é responsável pelos danos?
No Brasil, a responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva, ou seja, não depende de culpa. Basta que exista uma relação entre a atividade e o dano para que surja o dever de reparar.
Em outras palavras, mesmo que a empresa não tenha agido de forma intencional ou negligente, ela ainda pode ser responsabilizada. Esse modelo, conhecido como teoria do risco integral, amplia o alcance da responsabilidade e exige que toda a cadeia produtiva esteja atenta à prevenção e ao gerenciamento de riscos ambientais.
Além da esfera civil, a empresa também pode ser responsabilizada nas áreas administrativa e penal por infrações ambientais.
Na prática, isso significa que um mesmo incidente pode gerar multas, termos de ajustamento de conduta, obrigações de reparação e até processos criminais, trazendo impactos financeiros e de imagem importantes para a organização.
Em 2023, o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) reforçou que as obrigações ambientais “seguem o bem”: ou seja, quem compra um terreno que já estava degradado também assume a responsabilidade pela recuperação da área.
Esse entendimento, conhecido como natureza “propter rem”, traz impactos diretos em operações de fusão, aquisição e reestruturação societária, tornando essencial avaliar passivos ambientais antes de fechar qualquer negócio.
Os 3 pilares da gestão de responsabilidade ambiental
Antes de pensar em reparar, é preciso evitar. Mapear riscos — como processos, insumos e efluentes —, manter planos de resposta a emergências e garantir a manutenção dos equipamentos são práticas que reduzem as chances de um incidente.
Tudo isso deve estar alinhado à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que reforça a responsabilidade compartilhada entre fabricantes, distribuidores, consumidores e poder público ao longo de todo o ciclo de vida do produto — da produção ao descarte.
Quando o dano acontece, entram em cena as medidas de contenção e recuperação. Isso inclui ações como remediar solo e água, recompor áreas afetadas e cumprir determinações dos órgãos ambientais. A responsabilidade costuma envolver diferentes partes envolvidas que podem ser cobradas juntas, independentemente de quem causou diretamente o problema.
O Seguro de Responsabilidade Civil Ambiental atua como uma rede de segurança para a empresa. Ele pode cobrir danos a terceiros, despesas emergenciais (como barreiras e limpeza imediata) e custos de defesa em eventuais processos.
Por isso, vale olhar com atenção para cláusulas que tratam de poluição súbita ou gradual, retroatividade da cobertura e prazo para comunicação do sinistro.
Gatilhos de risco (além do óbvio)
Nem sempre um grande desastre é o que aciona a responsabilidade ambiental. Muitas vezes, pequenos descuidos operacionais já são suficientes para gerar prejuízos e processos. Veja alguns exemplos que costumam passar despercebidos — mas têm alto potencial de impacto:
Esses cenários mostram que a exposição vai muito além do que é visível. Um bom controle de risco ambiental começa antes do sinistro — no desenho dos contratos, na rotina operacional e nas coberturas do seguro.
Casos reais que mostram como o risco ambiental deixa de ser “teórico”
O caso da Braskem é um dos maiores exemplos recentes de como um passivo ambiental pode se tornar um problema estrutural e de reputação para uma empresa. A extração de sal-gema em Maceió provocou o afundamento de bairros inteiros e obrigou milhares de famílias a deixarem suas casas. Em 2024, a Polícia Federal indiciou 20 pessoas por crimes ligados à exploração das minas, e a venda da companhia ficou condicionada à solução do passivo.
Além do impacto social, a Braskem já desembolsou R$ 20 milhões em indenizações apenas para a empresa Algás, responsável por um gasoduto danificado, e segue com compromissos de compensação a moradores e negócios afetados. O caso reforça a importância de mapeamento de riscos geológicos e planos de contingência contínuos, especialmente em atividades de extração e infraestrutura subterrânea — áreas onde um dano ambiental pode rapidamente se transformar em um colapso urbano.
Em fevereiro de 2023, um trem da Norfolk Southern descarrilou no estado de Ohio transportando produtos químicos perigosos, entre eles o vinil-cloreto. A queima controlada do material evitou explosões, mas liberou gases tóxicos e contaminou o solo e as águas locais.
As consequências foram imediatas: milhares de moradores precisaram ser evacuados, e a empresa enfrentou uma série de ações civis e regulatórias. Em 2024, foi firmado um acordo de mais de US$ 310 milhões com o governo dos Estados Unidos para cobrir limpeza, monitoramento de saúde da comunidade e penalidades ambientais. Em 2025, um novo acerto destinou US$ 22 milhões para compensar diretamente o vilarejo de East Palestine.
Esse caso evidencia como falhas em cadeias logísticas de transporte de produtos perigosos — mesmo que terceirizadas — podem gerar danos de grande escala, múltiplas frentes de responsabilização e custos de longo prazo. A lição é clara: revisar contratos e incluir cobertura específica para transporte e contenção emergencial nas apólices de RC Ambiental.
Em agosto de 2025, as gigantes químicas DuPont, Chemours e Corteva fecharam um acordo de US$ 875 milhões com o estado de Nova Jersey para resolver ações por contaminação causada pelos chamados PFAS, substâncias químicas conhecidas como forever chemicals — altamente persistentes no meio ambiente e no organismo humano.
O valor será pago ao longo de 25 anos, com parte destinada a um fundo de até US$ 1,2 bilhão para remediação de águas e solos contaminados. O acordo também prevê ações de reparo comunitário e monitoramento contínuo da qualidade da água.
O caso ilustra o avanço da responsabilização por poluição gradual e de longa duração, que frequentemente ultrapassa fronteiras e décadas. Para as empresas, o alerta é claro: apólices tradicionais nem sempre contemplam esse tipo de risco, tornando essencial avaliar cláusulas de poluição gradual, retroatividade e limite agregado de cobertura.
O que um Seguro de RC Ambiental pode proteger
Checklist prático para diretoria e compliance
1) Governança & pessoas
Nomeie um responsável executivo por meio ambiente e reporte trimestral ao board.
Treine equipe e terceiros críticos (transportadores, manutenção, limpeza industrial).
2) Documentos & rotinas
Tenha PGRS e controles PNRS atualizados; mantenha manifestos, licenças e CADRI organizados.
Atualize planos de emergência e faça simulações anuais (incluindo fornecedores).
3) Contratos
Cláusulas claras de responsabilidade e exigência de seguros de RC (com limites, retroatividade e ERPs).
Preveja direito de auditoria ambiental em terceiros e hold harmless equilibrado.
4) Seguro
Revise escopo (terceiros, despesas emergenciais, defesa), poluição gradual, retroatividade, franquias, sublimites e territorialidade.
Alinhe a apólice ao mapa de riscos e ao plano de continuidade do negócio.
RC Ambiental não é só um “produto de nicho”: é peça de governança que conversa com compliance, operações, jurídico e finanças. Empresas com boa gestão ambiental tendem a mitigar perdas, acelerar retomada e preservar reputação quando algo foge do previsto.
Quer entender se a sua empresa está adequadamente protegida — e onde estão as brechas contratuais e securitárias?
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